Sobre o auto-empossado Embaixador

Olá! Sou Henrique Pinto, professor de Geografia do Ensino Fundamental e Médio. O Méier sempre atravessou a minha vida, antes mesmo de nascer. Durante a pandemia de Covid-19, resolvi dividir com as pessoas o que eu descobria sobre a história do bairro enquanto vasculhava jornais antigos em arquivos...

Mas por que o Méier?

(é aquela pergunta informal que sempre poucos me fazem...)

"Porque eu moro aqui" é a resposta mais óbvia e não menos correta, mas hoje, felizmente, essa residência é uma escolha, uma vontade de ter esse lugar em meu cotidiano de forma mais simples. "Útil e agradável" são gêmeas siamesas para falar deste bairro. Então, já que você está neste espaço, vou aproveitar para falar um pouco sobre mim (no Méier) também. 

Na minha família, essa relação já começou em 1932, quando minha bisavó Emiliana foi morar na Arquias Cordeiro, quase em frente ao Viaduto Manuel Paiva. Essa parte da família depois mudou-se para Madureira. Quando meu pai, de Vaz Lobo, e minha mãe, de Campo Grande, se casaram em 1984, escolheram o Cachambi para o início de uma nova vida. Primeiro, na Rua Americana. Depois, na Praça Avaí, onde morei desde o nascimento até os 14 anos de idade. Ali, fiz os principais laços de amizade até hoje. Com 11 anos, fui estudar no Colégio Piedade, já como Gama Filho, e minhas fronteiras mentais do que era meu bairro de vida se alargaram. 

Eu burlava silenciosamente as já generosas permissões de minha mãe para sair sozinho. Ela foi médica do SUS no Salgado Filho por quase 30 anos, e lembro do orgulho que tinha em dizer isso para todo mundo, já que o hospital também era nosso vizinho. Morria de medo de encontrá-la pelas ruas nessas andanças secretas quando voltava da escola. Se havia um trajeto mais rápido de A para B, eu percorria também C, D até Z, só para andar mais. Passo acelerado, olhos ao redor, cabeça distante (ficou um pouco menos quando aconteceu o 1º assalto na vida do jovem carioca). Fui criando meu catálogo de lugares. Onde era mais perigoso, onde era mais cheio, onde era mais barato... A graduação só confirmou que eu já fazia Geografia há muito tempo, e que o Méier sempre foi meu trabalho de campo.  

Mas quando meu pai se divorciou do seu segundo casamento, lá por 2005, e foi morar como solteirão em um apartamentinho na rua Aristides Caire, comecei a enxergar a dimensão histórica do bairro. O velho era tecnólogo em telecom, mas também ex-sindicalista, socialista e curioso toda vida. Leu Harry Potter para se inteirar daquele mundo e me apresentou ao Twitter! Ele começou a ler sobre a história do Méier e de alguns prédios, e me contava quando íamos às Sendas do Jardim, ou à locadora Night & Day, na rua Silva Rabelo. A partir dali, descobri uma prazerosa habilidade em imaginar os lugares do presente no passado, e quanto mais eu lia, melhor ficavam as sensações sinestésicas das memórias fabricadas.

Com tudo isso, o Méier foi ganhando para mim um significado muito maior do que somente a minha própria história de vida. Fui morar na Freguesia de JPA com 15 anos, mas passava boa parte do tempo de lazer na casa dos amigos de infância. Sempre busquei escolas do bairro para trabalhar e, quando deu, voltei para morar sozinho no Méier. E aqui estou até hoje!

A experiência da sala de aula e da pesquisa acadêmica me deram ferramentas para saciar a curiosidade histórica sobre o bairro, mas sempre como "hobby". Minha linha de pesquisa "oficial" nunca foi essa. A pandemia de Covid-19 e o isolamento social em 2020 me obrigaram ao recolhimento, e intensifiquei as buscas "sem rumo" na Hemeroteca Digital da BN. Depois, outros artigos, e daí vieram novos e velhos livros... A conta no Instagram seria uma forma terapêutica de compartilhar um prazer pessoal, e o tino da docência me fez pensar em algo "bonitinho". A cada resposta positiva, a brincadeira ia ficando um pouco mais séria. Já é sério o suficiente? Não sei! Mas ainda é terapêutico (e isso tem sido importante!)."

Obrigado pela visita! #EmbaixadaMeyer #MeuPaísMéier 

Henrique Pinto.