Rio Faria

O RIO FARIA

As diferentes paisagens formadas pelos recortes visuais do Rio de Janeiro ressaltam seu relevo em maciços que dividem o espaço terrestre com as baixadas geologicamente mais novas, originalmente cobertas de mangues, restingas e Mata Atlântica. Uma enorme baía permite que o sal do mar alcance os pés da Serra dos Órgãos. Na interação entre as duas esferas, os rios ditam o ritmo erosivo. Do que o continente leva ao mar, parte retorna como depósitos costeiros, as praias. A natureza construiu, o carioca colocou bondinho no granito, abriu túnel, fez ponte, fez Jesus posar para fotos em topo de rocha que parece altar. Fez samba em pedra lisa, chorou mate com limão nas praias, subiu e cantou o morro pra existir. Além do caos, o Rio criou vidas e significados culturais sobre a natureza. Isso só deixa ainda mais curiosa a dificuldade histórica que a cidade tem com o elemento natural que lhe é homônimo a quem ouve: o rio.

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Saindo daquela tal "casa do homem branco" que nos contaram, o "carioca" vem da tapera que existia por causa de um rio dotado de mesmo nome. Já o Faria (antes chamado de Farinha) nasce na Serra dos Pretos Forros, se junta aos rios Méier, dos Frangos, Faleiro e, finalmente, Timbó. (mapa na foto3). O leito do Timbó era o principal utilizado pela aldeia de Piráûasu, onde hoje se situa Inhaúma.

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O afluente do rio Faria passou a ser mais utilizado com a ocupação agrícola dos jesuítas do Engenho Novo. Enquanto as nascentes eram usadas para o saudável abastecimento (a Água é Santa não à toa), a veloz vazão escoava a produção ao Porto de Benfica, na Praia Pequena que existia na foz do Faria-Timbó, seu nome "completo". Em 1873, o Faria foi usado para dividir as Freguesias de Inhaúma da recém-criada Engenho Novo, onde um tal camarista Meyer tinha terras.

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Mas nessa cidade que chove muito e rejeita pensar em moradia popular, as margens de inundação foram retificadas, canalizadas, cobertas e (ir)regularmente ocupadas. Perdemos o contato com nossos rios. Hoje eles estão aí, entre vias expressas e confundidos com valões, seguindo sua histórica missão de levar o que Cidade gera, mesmo esquecendo que uma parte sempre volta. É a natureza dos Rios!