Um Jardim para o Meyer

UM JARDIM PARA O MEYER

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Todos podemos reconhecer a posição privilegiada do Jardim do Méier no espaço cotidiano e cultural do bairro. São comuns as memórias e lamentos quando o jardim vem ao assunto dos moradores. As vezes memórias traem e lamentos são injustos, mas acabamos de completar 100 anos de existência desse "recreio" em 2019, e conhecer seu papel ao longo dos anos pode ressignificar nossas identidades.

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Já sob o título de "Capital dos Subúrbios" e com crescentes atividades comerciais e culturais próprias, seus representantes políticos, como o morador Ângelo Tavares (família pioneira do Méier), conseguiram pleitear junto ao prefeito a construção de um jardim familiar (planta na foto 1), tendo o terreno da chácara do Dr. Archias Cordeiro (na parte alta, na antiga emergência do Hospital) sido o escolhido para as obras. Vitória? Ainda não.

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Os investimentos no calçamento, água e esgoto já eram parcos, e o parque (luxo ou necessidade?) rapidamente perdeu interesse do governo. As obras só iniciaram em 1916 (foto 5), e logo paralisaram. Em 1917, após intensa campanha nos jornais suburbanos e nas colunas dos da cidade, foi determinada a finalização da praça (foto 6), que já estava servindo de área de treino a bombeiros e jovens militares do entorno.

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As obras em si ocorreram em 92 dias, e a inauguração (1919) foi marcada para o aniversário do bairro (13/05) teve que ser adiada para 24 de maio, igualmente simbólico para a vizinhança. Os 13.000 metros com acácias, mangueiras, magnólias, paus-ferro. Um coreto, uma estátua de Pomona (deusa dos pomares), uma cascatinha com gruta. Foi aberto em grande festa pelas mãos do aclamado Paulo de Frontin (no meio dos alunos da região na foto 9). A foto 10 demonstra o bairrismo nosso de cada dia, também contado por Lima Barreto como uma "mania suburbana". Depois tem mais!


O JARDIM DO MEYER DE AUGUSTO MALTA

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Em 24 de maio de 1919 foi inaugurado o Jardim do Meyer com grande festa pela presença de Paulo de Frontin. A Assistência do Meyer já estava para inaugurar seu espaço, cuja enfermaria foi antecipada na pandemia de Gripe de 1918 em caráter emergencial.

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Na rua Imperial, o corpo de bombeiros ocupava o antigo pomar do Dr. Felipe Caire (o pai) e seu prédio oferecia um ponto de vista privilegiado do jardim visto de cima, algo ainda raro em uma cidade pouco verticalizada. E o desenho planejado para a praça, o coreto e seu chafariz (onde hoje é o parquinho) eram facilmente visíveis pela pouca idade das árvores que hoje dominam a perspectiva googlesca.

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A Revista Fon Fon já havia explorado o ponto de fotografia (foto 11), e algum tempo depois o famoso fotógrafo da cidade, subúrbios e interior do Rio de Janeiro da primeira metade do século XX Augusto Malta, levou seu belo equipamento para nos deixar esse registro.

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Em um Meyer ainda a ser ocupado, com diversas ruas centrais ainda sem calçamento ou esgoto, alguns pontos construídos se destacam na paisagem, assim como o muro da antiga casa do Dr. Caire (foto 13). No alto da rua Paraguay (Cônego Tobias), o prédio da atual Escola Municipal Professor Augusto Paulino Filho (foto 14). Depois, o topo do frontão da Loja Maçônica Cayrú, inaugurado em 1901 na rua Ana Barbosa, era de fácil visualização. Hoje, ainda existe e bem conservado, mas é escondido pela evolução urbana ao redor (foto 12).

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Praça aberta! Para quem? Queriam um passeio europeu, mas a realidade era carioca, e diversos conflitos são vistos nos 20s, ora culpando o descaso público, ora reproduzindo o preconceito de classe social da época, assim como hoje vemos em comentários...


DIA DAS FAMÍLIAS, NOITE DOS "IMMORAIS" NO JARDIM DO MEYER

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Festa de inauguração em 1919, apertos de mão e agradecimentos públicos pelo novo espaço de passeio e lazer que prometia ser o ponto de encontro da sociedade suburbana. Inegavelmente um ponto de referência no espaço meyerense! Mas se durante o dia as famílias realmente aproveitavam o lazer, a circulação de vendedores ambulantes, e alegres sons de retretas das bandas militares do 3° Batalhão de Infantaria (hoje 3° BPM) e outros praças alocados no entorno, a noite era diferente...

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A iluminação elétrica instalada na inauguração era "permanentemente provisória", e sua luzinha facilitava a ação de "gatunos", que no mesmo ano da inauguração já haviam levado todos os peixinhos da cascatinha da gruta. Antes das grades, o belo espaço também era sedutor para atividades que buscavam descrição e algum conforto, propiciado pelos bancos e gramados ajardinados no breu das sombras.

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A foto 18 mostra o trecho que sugere um reforço nas luzes "baixas" do jardim. O Sr. Geminiano (da Franca) era o Chefe de Polícia da época, e liderava uma grande operação contra o "baixo meretrício" no Centro. Assim como boa parte dos usos removidos da área central, os Subúrbios foram os locais aonde as pessoas e suas atividades continuariam a existir, mas segregadas da cidade. O curioso (mas nem tanto) é que os frequentadores citados eram jovens militares. Depois, muitos deles foram realocados, as retretas militares findaram, prostíbulos encontraram paredes e portas pelo bairro, e o Jardim do Meyer, com ajuda das luzes das lojas e ruas do entorno, passou a ser mais frequentado por jovens namorados. O risco continuava existindo, como provou Catulo Cearense ao ser deixado nu por um assalto (foto 20) em 1929.

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E o Coreto segue firme testemunhando tudo isso!

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