Lia Barbosa a Amaro Cavalcanti

PROLONGAMENTO DA LIA BARBOSA (atual AMARO CAVALCANTI)


Hoje é fácil imaginar percorrer o subúrbio adentro margeando a linha do trem. Em alguns pontos desvios obrigatórios ocorrerão, mas em linhas gerais é possível seguir em linha reta. Antes de 1918 não havia essa possibilidade para quem saía do Méier e queria seguir em direção a Cascadura! Ou contornava pelo Engenho de Dentro e Piedade, opção mais demorada, ou atravessava a Cancella do Perna de Pau para seguir pela rua Archias Cordeiro, opção que frequentemente levava a acidentes, muitos dos quais fatais, pelas falhas do sistema e desrespeito às sinalizações. É bom lembrar que havia trens interestaduais que passavam a maiores velocidades por não pararem em estação urbana alguma. Ainda em 1898 foi determinada a ligação da Lia Barbosa com a rua Manuel Victorino, no Encantado, começaram a ocorrer desapropriações para as obras a partir de 1908.


A foto 2 mostra uma das casas demolidas para a obra de prolongamento da Lia Barbosa, próximo a uma passagem, como a loja na extinta "Rua Medina, 1" (foto 2). Na 4ª foto é a perspectiva do primeiro trecho aberto até a rua das Dores (atual Alm. Calheiros da Graça), ainda em barro. Hoje seria em frente ao Hospital Pasteur.

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O trecho de Todos os Santos era um dos mais elevados, e foi de onde Augusto Malta se posicionou para tirar a foto 3, ainda antes das obras. Entre as fotos 5 e 6 é possível ver a mudança com as obras, e a casa claramente deslocada em relação à rua posteriormente não resistiu, e foi parcialmente demolida.


Em 13 de outubro a obra foi lançada, contando com a presença do presidente Wenceslau Braz (VB na foto 8) e do prefeito do DF, Amaro Cavalcanti (AC), que virou o nome da rua posteriormente. Foi uma grande festa, com a promessa de construção de pelo menos três praças e coretos em alguns pontos, e que hoje são espaços pouco utilizados.

Quase todos principais jornais do Rio de Janeiro noticiaram ao longo de 1918 os estágios das obras na rua Lia Barbosa. As aqui apresentadas foram veiculadas pelo Jornal do Brasil e Gazeta de Notícias.

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Na 2ª foto aqui é destacada a novidade da linha reta para o transporte aos subúrbios de Deodoro. A figura do Guarda de Cancela na imagem começaria a sumir da paisagem, à medida que os movimentos de travessia foram caindo, até que os muros fossem efetivamente levantados. O Buraco do Padre, no Engenho Novo, é de 1921. O viaduto José Manuel Paiva, de Todos os Santos, é de 1923. O viaduto do Méier mesmo, só na dec. 50. E assim essa marca constante da ligação entre os dois lados dos bairros cortados pelo trem foi se fechando. Com as cancelas, os motorneiros e motoristas precisavam ver a proximidade de trens, então os muros não existiam. Com o fechamento das cancelas, paramos de ver um lado do bairro quando estamos em outro, e a dicotomia que atinge os lados do Méier tanto quanto outros subúrbios vai virando característica. É uma das raízes da decadência das fachadas defronte ao trem, tão antigas e ricas quanto despedaçadas. Vale lembrar que o Méier nasceu na parada de uma "Cancella do Perna de Pau"

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Na última foto, onde é uma pequena praça no encontro da rua Silva Rabelo com Alm. Calheiros de Miranda, foi anunciado um coreto para espetáculos musicais e festividades nesse trecho que havia sido o mais desafiador da obra, exigindo uma rampa mais resistente. É uma pracinha charmosa, mas que não cumpriu o planejado. Quem sabe um dia...