O fim do Primavera A.C. - Parte II

O FIM DO PRIMAVERA AC

No primeiro post vimos como o rápido crescimento do interesse, de jogadoras e de público, sobre o futebol feminino mexeu com os subúrbios do início dos anos 1940. O SC Brasileiro foi a principal força emergente, participando de torneios amistosos até fora do Rio. Nessa profusão de novos times (fotos 2 a 6), que uma dissidência do Brasileiro funda o Primavera A.C. em maio de 1940.

Chamado de alvirrubro do Engenho Novo, acabou formando divertida sede social na rua Gaspar, em Pilares. Cecy, Erminda, Elza, Lilita, Aida formavam o time-base junto das 3 principais craques: Sally no meio, Nicea no ataque ("Leônidas de saias" na foto1) e a zagueira já citada Adyragram (Margaryda, seu nome, ao contrário). Elas eram treinadas por uma grande incentivadora do futebol feminino desde os anos 20 nos suburbios: Carlota Alves de Rezende. D. Carlota costurava uniformes, alugava campos, arrecadava fundos, defendia o direito das mulheres ocuparem os espaços esportivos que quisessem. Claro que isso incomodava os setores mais e menos conservadores da cidade.

Jornais ampliavam as manifestações políticas contrárias ao futebol feminino. O integralista Newton Cavalcanti (sempre eles) foi designado por Vargas para "regulamentar" (proibir) a modalidade em 1941. A excursão que o Primavera faria para enfrentar as melhores equipes femininas da América do Sul foi o bode expiatório usado para semanas de difamação, que culminaram na prisão por 1 dia de D. Carlota. O fechamento do Primavera a fez ter desgosto eterno pelo futebol.

A capitã Adyragram, em resposta à uma carta pública a Getúlio Vargas publicada no Diário da Noite contra as mulheres no futebol, disse ainda em 1940:

"Há homens cujas ocupações lhe dão tempo até para tratarem de assuntos femininos. Mas, todas as vezes que o fazem, procuram celebrizar-se, dando o nome, residência e até o telefone (...) Preocupe-se com os guris que jogam bola na sua rua e quebram vidraças. Nesse caso, se prestaria um grande serviço e não teria tempo de preocupar-se com coisas que só interessam ao 'sexo fragil'"

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